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O ego é o seu inimigo, Ryan Holiday

  • Edis Henrique Peres
  • 19 de abr. de 2019
  • 10 min de leitura

Atualizado: 15 de jun. de 2019

Sobre o autor


Ryan Holiday é estrategista de mídia e escritor. Aos dezenove anos deixou a faculdade para ser aprendiz do Robert Greene, autor do livro As 48 leis do poder. Holiday já atuou como consultor de livros que venderam milhões e criaram seu próprio nicho no mercado editorial. Começou como estrategista da American Apparel, uma famosa marca de moda conhecida mundialmente, e posteriormente se tornou diretor de marketing da empresa.


Aos 25 anos publicou seu primeiro livro: O obstáculo é o caminho, traduzido em mais de vinte idiomas. Ryan tem uma história de sucesso, até que o fenômeno de autor best-seller se extingue em uma semana, quando apenas uma pessoa aparece na noite de autógrafos. Suas conquistas desmoronam: é humilhado em público por uma pessoa que admira, e o impacto disso o faz ir para o hospital; perde o controle e entra na sala do chefe para dizer que não é capaz de continuar suas atividades e que voltava para a faculdade; a empresa que fundou passa por uma série de problemas que o obriga a reconstruí-la duas vezes.


A American Apparel chega à beira da falência, mentores que ele admira sucumbem, as pessoas que o tinham ensinado e em quem tinha se inspirado fracassam. Seu ideal de estabilidade financeira, emocional e psicológica se desfaz. Nesse momento de fragilidade os problemas pessoais que negligenciava vêm à tona. Sem escolha volta para a cidade onde havia começado.


A confiança em si mesmo e nos outros, o trabalho que antes era feito com prazer e facilidade, a liberdade conquistada, vão aos poucos sendo perdidos. O autor revela que na ocasião estava tão tenso que qualquer obstáculo causava uma explosão de ira. Chegou a ter ataque de pânico porque o wifi não conectava e os e-mails que precisava enviar eram urgentes. Passado alguns meses diante dessas dificuldades, tatuou no antebraço direito: o ego é o inimigo. No braço esquerdo outra frase: o obstáculo é o caminho. Um lembrete, uma bússola.


Neste livro Ryan se propõe a escrever algo que gostaria de ter lido nas suas maiores dificuldades. Mas o objetivo não é fazer o leitor se sentir especial, poderoso ou inspirado, o foco é fazê-lo se sentir menor aos próprios olhos. Diminuir o discurso de quão especial é, para concretizar a capacidade de mudar o mundo através do trabalho que se dispuser a cumprir.


O ego é o seu inimigo

Como dominar seu próprio adversário


Ryan Holiday conceitua ego como o motivo de termos o que queremos e a insatisfação depois de ter aquilo que queríamos. Através de exemplos de figuras históricas, filósofos e grandes empresários contemporâneos, o autor demonstra o fracasso e o sucesso de cada um.

O conceito de ego trago pelo livro não é o mesmo freudiano. Freud representa o ego montado em um cavalo: os instintos inconscientes simbolizados pelo animal e o ego tentando comandá-lo. Tampouco é o conceito da psicologia moderna, que utiliza a palavra egolatria para se referir a alguém concentrado em si mesmo e que despreza outras pessoas.

O autor usa a palavra com sua tradução mais casual: uma crença doentia na própria importância. Arrogância, prepotência, ambição egocêntrica, essa é a definição do livro para o termo.

Dividido em três partes: Aspiração, Sucesso e Fracasso, o desejo do autor é suscitar humildade nas aspirações, generosidade nos sucessos e resiliência nos fracassos. Ryan pontua que o ego sempre esteve presente ao longo da história humana, contudo, agora está sendo encorajado. “É uma tentação que todos conhecemos: a de substituir a ação por palavras e por alarde.


Aspiração

Fazer mais, falar menos


O feed do Facebook pergunta: no que você está pensando? “O que está acontecendo?”, questiona o Twitter, Tumbr, Linkedin. A tecnologia provoca e solicita a fala. No fim de um dia cansativo, é quase impossível vencer a tentação de ganhar elogios para levantar a astral. “Receber o máximo de crédito e atenção pública por ter feito o mínimo. Isso se chama ego”, pontua o autor.

A mídia exige opiniões sobre cada fato que acontece no mundo. Muito é dito, mas quase nada feito. Ryan cita a obra Trabalhando em meu livro, que contém diversas publicações nas redes sociais de escritores que obviamente não estão escrevendo.

“O silêncio é o descanso dos fortes e dos que têm confiança em si”, escreve Holiday, indo contra o momento em que todos querem ter voz. Outra frase ainda mais incisiva do autor é que “a única relação entre a fala e o trabalho é que uma mata o outro”. Também é citado o livro A Guerra da Arte, de Steven Pressfield, que cria o conceito que chama de Resistência.

Relacionando os dois livros pode-se notar que a necessidade de contar sobre os projetos a serem alavancados é o que Pressfield colocar como uma maneira de autossabotagem da Resistência, disfarçada de desculpas convincentes para que não se consiga alcançar o êxito desejado. Assim como a Resistência que se camufla nas mais diversas situações, o ego também se veste com outros nomes.

John Boyd, estrategista, piloto de caça, professor e pensador, em certa ocasião chamou um de seus pupilos e o fez um discurso, que repetiria várias vezes até se tornar uma tradição e um rito de passagem, que concluía com a pergunta: Ser ou fazer? Para que lado você vai?

Nesse ponto Ryan deixa claro que as aparências realmente enganam: “ter autoridade não é a mesma coisa que ser autoridade”. E continua: “Impressionar as pessoas é algo completamente diferente de ser de fato impressionante”.

Aprendendo a aprender

Tornar-se um aprendiz, eis uma lição veementemente propagada não apenas neste, mas em diversos livros e palestras com nicho similar. Algo que parece simples, mas que implica em silenciar o ego. “Não gostamos de pensar que alguém é melhor do que nós. Ou que ainda temos muito a aprender. Queremos pensar que chegamos ao fim de nosso aprendizado. Queremos estar prontos.”

O fato de estar aprendendo transfere o ego e a ambição para as mãos de outra pessoa. Holiday opina que a maior sabedoria de Sócrates é justamente reconhecer que nada sabe. Utilizando o exemplo da escrita e da história, escreve: um escritor deve ser versado na literatura clássica, mas também ler e ser desafiado por seus contemporâneos. Um historiador deve conhecer a história antiga e a história moderna, assim como sua especialidade. [...] Por quê? Para se tornar grande e continuar grande é necessário saber o que veio antes, o que está acontecendo agora e o que virá em seguida.

“O ego faz presumirmos que já somos os melhores, e ter que submeter nosso talento às provas do mundo é quase um desaforo” Para vencer essa arrogância, Holiday cita Frank Shamrock, pioneiro das artes marciais mistas (MMA), Frank desenvolve um sistema que chama de mais, menor e igual. Ou seja, alguém melhor com quem aprender; alguém inferior a quem ensinar; e alguém no nosso nível para se comparar. Dessa maneira o ego perceber que há pessoas melhores, tão boas quanto, e que os menos experientes não devem ser menosprezados.

Muita paixão e nada mais

Goethe, escritor alemão do livro Fausto, escreveu: grandes paixões são enfermidades incuráveis. Com essa crueza que Ryan lida com a palavra paixão. Para ele o erro está em ouvir falar da paixão de pessoas bem sucedidas e esquecer que fracassados tinham a mesma característica. “‘Fervoroso’ é apenas um eufemismo para ‘louco’”, lembra o autor.

Isso porque a animosidade, a paixão, costuma ocultar a fraqueza. “Sua impetuosidade, seu frenesi e sua capacidade de tirar o fôlego são substitutos medíocres da disciplina, da maestria, da força, do propósito e da perseverança”. Isso porque para o autor é mais importante se sentir até mesmo intimidado pelo que se tem pela frente, diminuído pela magnitude do objetivo, e ainda assim, se sentir determinado a avançar. “Aja de acordo com o que sente que deve fazer e dizer, e não com aquilo que o encanta ou que deseja ser”.

A grandeza na verdade vem da atividade muitas vezes ingrata e servil, ela se alimenta da humildade para se edificar: “você é a pessoa menos importante da sala — até mudar isso com resultados.”.


Ego e orgulho

Você sabe quem eu sou?, grita o ego tentando se impor e ser saciado Pensar que o ego equivale à confiança, e que precisamos dele para estar no controle, é um equívoco que muitas vezes causa o efeito contrário. O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, disse: homens vaidosos nunca ouvem nada além de elogios.

A humildade são os óculos que corrige a miopia do ego. O escritor, contudo, alerta que o fato de ser calado, quieto, não significa ser livre do orgulho: crer, em seu íntimo, que é melhor do que os outros continua sendo orgulho.

Independente do talento que tenha, das conexões que possua, do dinheiro que movimenta na conta, o desejo de realizar algo importante, significativo, será submetido a tratamentos que irão da indiferença à franca sabotagem.

Edgar Degas, famoso pintor impressionista da obra as bailarinas, conversava com seu amigo Stéphane Mallarmé, contando não conseguia escrever poemas, tinha toda a ideia, mas o texto não fluia. Ao que seu amigo respondeu: não é com ideias, meu caro Degas, que alguém escreve versos. É com palavras. Lê-se igualmente: com trabalho. Trabalho muitas vezes inferior ao que o ego pensa ser digno dele.

O autor adverte que na verdade não se vai trabalhar até o sucesso. No sucesso se continua trabalhando para se continuar ali. Ou seja, trabalho e mais trabalho para sempre. Ou nas palavras de Sêneca: um grande destino é uma grande escravidão. A saída para vencer o orgulho do ego, e para alcançar o sucesso não está no ditado não cante vitória antes do tempo, e sim não cante vitória. Nunca. Como diria o dramaturgo Menander: você, que acha que é alguém.


Sucesso

O curto tempo do êxito


O físico John Wheeler, que ajudou a desenvolver a bomba de hidrogênio, observou que “a medida que a ilha do conhecimento cresce, o mesmo acontece com a praia da ignorância. Basicamente, quanto mais conhecimento tem, igualmente cresce sua incompreensão sobre outros temas.

O desespero para acreditar que os donos de grandes impérios tinham por desejo primordial construí-los nada mais é que uma cilada de ceder ao desejo e começar a planejar o seu próprio reinado. Antes mesmo de gerar bens já receber créditos e ser respeitado pela riqueza que talvez venha a conquistar, é na verdade um grande desejo do ego.

“Por que o sucesso é tão efêmero? É o que o ego que o abrevia”. Ao analisar a história de grandes nomes vê-se que na verdade o “sabia que isso ia acontecer, não passava de um “achava que isso poderia acontecer”.

“Quando alcançamos nosso próprio sucesso devemos resistir ao desejo de fingir que tudo se desenrolou exatamente como planejado. Não houve nenhuma narrativa grandiosa”. Contudo, ao ouvir histórias de êxito, o enredo é linear, o protagonista sabe aonde quer chegar, o caminho é reto e ascendente; quando na verdade, em vários momentos a pessoa se perdeu, se desviou a outros caminhos, não sabia mais o destino da viagem. “Em vez de fingir que estamos vivendo alguma grande história, devemos continuar concentrados na execução”.


Passos curtos e sonhos grandes

O técnico de futebol, Tony Adams, pontua: jogue pelo nome na frente da camisa e as pessoas irão se lembrar do nome que está nas costas. O exemplo traduz o posicionamento de Paul Graham: “o caminho para fazer coisas realmente importantes parece ser começar com coisas que, aparentemente, são pequenas.” O autor salienta que é essencial entendermos que o sucesso futuro não faz parte de uma etapa natural da história, ele está na verdade enraizado no trabalho, na persistência, na criatividade e na sorte.

Passos curtos para ir longe, mas muitos passos. Nesse caminho rumo ao sucesso a coragem é um requisito essencial. Um velho ditado popular coloca que grandes pescarias são feitas em águas profundas, longe da segurança da margem. Contudo, é preciso conceituar corretamente a coragem: “a coragem fica entre a covardia a um extremo e a imprudência no outro”, assim como “a generosidade, que todos nós admiramos, deve ficar exatamente no meio, entre a extravagância e a parcimônia, a fim de ser útil”.

A linha que separa o ego da confiança, a coragem da insensatez, o conhecimento da ignorância, se mostra tênue e frágil. E para completar: “nunca estamos felizes com o que nós temos, queremos também o que os outros têm. Queremos mais do que todo mundo”.

Holiday revela o desperdício de parcelas preciosas da vida ao fazer coisas que não se gosta para provar algo a pessoas que sequer respeita e obter coisas que não quer. Estaria aí um claro exemplo de ego disfarçado de desejo, e de insensatez transvestida de uma falsa coragem.


Fracasso

Nessa fórmula outra parcela importante da equação é o fracasso. Aquela parte da história que é omissa quando se conta a jornada para outras pessoas. O ponto fora da curva que é esquecido por ser vergonhoso. “Se o sucesso é a intoxicação do ego, o fracasso pode ser um golpe devastador para ele, transformando deslizes em quedas e pequenos problemas em grandes desmoronamentos”.

Contudo, embora na maioria das ocasiões as pessoas sejam responsáveis pelo próprio fracasso ­— e é preciso reconhecer a parcela de culpa que lhe cabe ­—, pessoas boas também fracassam (ou são levadas ao fracasso por outros). Mas essa trajetória de perder a dignidade, prestígio, bens, estima, na verdade, segundo Bill Walsh é necessário: quase sempre, sua estrada para a vitória passa por um lugar chamado fracasso.

O que é preciso fazer é reconhecer que o fracasso chega sem ser convidado, mas o ego faz com que seja permitido que ele se estabeleça e faça dali sua morada. Depois de ter alcançado o topo e caído no fundo do poço é difícil reconhecer que se errou, que é necessário aprender algo novo. Goethe escreveu: o grande fracasso é se ver como mais do que é e se dar valor menor do que se tem.

O caminho para vencer os momentos turbulentos de fracasso está em reconhecer que “este momento não é a sua vida. Mas é um momento na sua vida.” De pouco adianta cruzar os braços e sonhar com o futuro sem fazer efetivamente algo para mudar a realidade. Esperar grandes oportunidades para agir é um erro, pois a oportunidade aparece, mas outro, que, enquanto você esperava, trabalhava duro, estará mais qualificado para ela.

“No final, a única maneira de avaliar seu progresso é ficar na beira do buraco que você cavou para si, olhar para dentro dele e sorri carinhosamente para as marcas de unhas que, repletas de sangue, sinalizam sua escalada por aquelas paredes”.

De pouco adianta vencer se quem chegar lá não for sua melhor versão.

Como disse Harold Geneen: as pessoas aprendem com os fracassos. Elas raramente aprendem alguma coisa com o sucesso.


A importância da obra

O livro oferece uma visão ampla sobre diversos aspectos de uma jornada de sucesso. O uso constante de exemplos para pontuar os ensinamentos da obra colaboram para que se perceba que essas percepções não são restritas apenas ao autor, mas partilhada por grandes nomes de toda a história, ciência e literatura.

Depois da leitura, a sensação que se tem de si é diminuída, mas não menosprezada. Entende-se a pequenez do indivíduo, mas igualmente se enxerga que isso não é um empecilho para se realizar coisas grandes. “Temos a ilusão prejudicial de que nossas vidas são ‘grandes monumentos’ que devem durar para sempre”.

Contudo, essa auto-análise não é simples. “Não é fácil enfrentar o ego. Primeiro, aceitar que o ego pode estar ali. Depois, submeter-se ao escrutínio e à crítica.” A grande questão levantada no livro é que o aperfeiçoamento pessoal geralmente leva ao sucesso profissional, contudo, o contrário raramente acontece. “Esforçar-se para refinar seus pensamentos habituais, para sufocar impulsos destrutivos — esses não são simples requisitos morais para uma pessoa decente”. Isso é capaz de ajudar na navegação pelo mar traiçoeiro que a ambição atravessa.

O autor escreve em cada uma das três partes do livro:

Seja qual for sua inspiração, o ego é seu inimigo...

Seja qual for o sucesso que você tenha alcançado, o ego é seu inimigo...

Sejam quais forem os fracassos ou os desafios que você venha a enfrentar, o ego é o seu inimigo.

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